Psicologia do desenvolvimento, construção mental anterior ao trabalho e definição dos meios e caráter do trabalho eram preocupações do pensamento de Vygotsky. Quando o psicólogo faz a distinção entre o artesanato da colméia da abelha com o trabalho do arquiteto, define que só o homem pode ter um projeto já em sua mente antes de executá-lo. Só o homem pode dar um caráter ao seu trabalho. Qual será o caráter do trabalho que vou exercer? Um bom questionamento a se pôr em relevo antes do arregaçar das mangas.
Um homem bem desenvolvido, para Vygotsky, é um homem que tem domínio de suas operações psicológicas. Ele preocupou-se, antecipando o significante, com a relação entre S1 e S2, ou seja, objeto e instrumento, memória 1 e 2, palavra 1 que se associa com palavra 2. Pensamento e linguagem (1962),o texto que lhe deu reconhecimento. Vygotsky se questionava, porque essa relação interdependente na mente humana? Como posso servir-me dessa característica para uma melhor aprendizagem, melhor adaptação ao ambiente social? Como ajudar pessoas com esse conhecimento? Que plano na minha mente posso elaborar para ajudar o próximo a aprender e melhor se adaptar (que seu grau potencial de alegria aumente?)
Funções psicológicas superiores (aqui um termo Vygotskyano), refinamento espiritual, emancipação do pensamento, desenvolvimento de consciência crítica, elevação humana (para além do homem). São conceitos que se entrelaçam e põem a descoberto um descontentamento, uma angústia com o social. Passamos por duas guerras, e após, uma outra, fria, calcada no medo, e o medo sobrevive, resiste, alimenta o aspecto cancerígeno da sociedade. A idéia de atingir funções psicológicas superiores resiste no tempo, e é atual – contemporânea em sua essência. Distante do behaviorismo; aqui, não se está no estímulo que produz uma melhor resposta, está numa conquista: individual, entre dois ou grupal. Todos conquistam quando buscam o exercício das funções psicológicas superiores. Possibilidade de construção de relações verticais – é a ética do prazer de aprender, sempre digno quando se oferece ao olhar do Outro.
Aníbal Ricardo de Lemos
Psicólogo Clínico
